quarta-feira, 24 de abril de 2013

Minhas obras

Além de escritora, também sou artista plástica.
 Se alguém tiver interesse em meus quadros, entre em contato pelo próprio blog.
 
 
 










Maldição sem causa, não procede.


        Toda pessoa tem o direito de contar sua história e eu, usando de toda verdade e sensatez  decido contar a minha. Assim, viajo  para o meu passado distante, época em que tinha de 7 a 8 anos de idade.

        Nessa narrativa me esforcei  para ser coerente justa e omitir nomes, uma vez que não sei quantas pessoas tiveram responsabilidade na destruição do meu do casamento. Só reconheço duas pessoas, mas DEUS conhece  os envolvidos nesta trama diabólica, e é que fará justiça, pois a justiça dele é na justa medida.

         Queridos amigos internautas, o meu pai era alcóolatra, e minha mãe, não suportando mais viver com ele,  devido aos terríveis maus tratos que sofria, tomou a decisão de sair de casa com os quatro filhos mais novos.

         Eu, meus irmãos e minha mãe, fugindo da fúria de meu pai que estava possesso e bêbado, saímos de casa desorientados. O medo nos consumia. Era uma noite  de tempestade. Minha mãe nos agasalhou como pode, colocou esteiras velhas sobre nossas cabeças e saímos da nossa casa em direção à escuridão da mata. O medo do nosso pai quase nos paralisava mas continuávamos andando, ora nos trilhos, ora dentro da mata. A escuridão da noite nos favorecia mas ao mesmo tempo nos causava um pavor terrível.

          Estávamos encharcados pela chuva e  açoitados pelo vento. Vez ou outra ouvíamos nosso pai rosnando nossos nomes como um cão raivoso, sobretudo o nome de nossa mãe, ele gritava: - mulher, se eu te pego, eu  vou te matar. Quando a voz dele ficara mais audível, sabíamos que ele estava bem próximo de nós, minha mãe nos empurrava para  dentro das moitas e diria baixinho. Quietos, quietos. (Esse tormento não aconteceu só uma vez  em minha infância, mas muitas, muitas vezes).

         Naquela noite, como em todas as noites que aquele tormento ocorria, minha mãe queria, desejava ardentemente chegar a um destino que a salvaria da fúria de nosso pai. A casa da sua comadre e grande amiga.

          Eu, minha mãe e meus irmãos caminhávamos em fila indiana e depois de muito caminhar, exaustos, acoitados pelo vento e encharcados pela chuva, chegamos finalmente à casa da grande amiga comadre de nossa mãe (considerávamos essa mulher uma santa) Todas as vezes que saíamos de nossa casa, fugindo da fúria impiedosa de nosso pai, essa mulher maravilhosa nos acolhia, nos abrigava em sua casa com um carinho extremado, trocava as nossas roupas  molhadas e nos aquecia à beira do seu fogão de lenha, enquanto preparava uma comida gostosa para nós Todos nós e mais ainda a nossa mãe  sentia uma gratidão imensa por essa mulher tão solidária e amiga.

          Numa dessas noites traumáticas, em que meu pai nos escorraçou de nossa casa, aconteceu um fato terrível, fomos dormir e quando amanheceu, todos nós acordamos, menos a nossa mãe. A comadre dela foi até o quarto e se deparou com um quadro nada animador.

           Nossa mãe fazia na cama, imóvel, com os dentes cerrados e os olhos abertos. Quando a vimos naquelas condições, ficamos desolados e desesperados. A comadre de nossa mãe, imediatamente, nos retirou do quarto e pediu que esperássemos nossa mãe melhorar, sentadinhos embaixo da jaqueira. Chorávamos todos juntos, abraçados e dizíamos em soluços: O que será de nós sem a nossa mãezinha. Quem cuidará de nós.

           A comadre de nossa mãe, que era muito ativa, começou  a tomar  atitudes. Pediu a meu irmão mais velho que pegasse o cavalo e fosse até a farmácia busca o farmacêutico (não havia médico na cidade onde nasci naquela época). Meu irmão saiu em disparada, enquanto o pavor e o abandono tomava conta de nós, tão pequenos e indefesos. Naquela época, nossa mãe era nosso porto seguro, nossa riqueza, nosso tudo...

        Uma hora depois, o farmacêutico chegou, examinou nossa mãezinha e disse: - Ela está em choque, está traumatizada, devido a muito sofrimento. O farmacêutico pediu que nós saíssemos do quarto, e esperássemos a manhã inteira, de novo, sentadinhos embaixo da jaqueira. Lembro-me que nos ajoelhamos e oramos a Deus para que Ele curasse nossa mãezinha. O que seria de nós sem ela?

       Depois de muito tempo, fomos convidados a entrar no quarto, minha mãe havia voltado a si, foi melhorando devagar, mas ainda estava muito pálida e fraquinha. Olhávamos com os olhos cheios de lágrimas. O olhar dela para nós era tão triste, tão vazio e tão sem esperança... Era de cortar o coração.

        O farmacêutico aconselhou à comadre de minha mãe, que procurasse um parente, alguém que pudesse ir até lá, na roça e nos socorresse. Então, a comadre chamou meu irmão mais velho, deu a ele um dinheiro, e o mandou a Araruama, para informar a meu cunhado, marido de minha irmã, do ocorrido.

         À tardinha, já com o sol se pondo, meu irmão estava de volta, trazendo meu cunhado com ele (eles chegaram num jipe, que naquela época, era usado como taxi na cidadezinha).

         A comadre expos os fatos para o meu cunhado. Disse que não seria mais possível a convivência de minha mãe com meu pai. Daí, meu cunhado nos levou para sua casa, em Araruama.

       Minha irmã casada a apenas um mês, de repente se viu com a casa cheia (cinco pessoas). Ela deve ter ficado impactada com a situação repentina (e de modo algum tiro a razão dela). Minha irmã nos recebeu, relativamente bem, porém depois de algum tempo as coisas começaram a ficar bem difíceis para todos nós. Meu cunhado e minha irmã logo expuseram à minha mãe as regras e a condição para que ficássemos morando com eles.

Regra nº 1 - Teríamos que obedecê-los e trabalhar, (teríamos tarefas diárias).

Regra nº 2 – Minha mãe teria que ser submissa a eles, ou seja, eles nos alimentavam, nós morávamos na casa deles, então eram eles que ditavam as regras e nos e nossa mãe teríamos que obedecer. Quando acontecia da minha mãe se revoltar e dizer alguma coisa, meu cunhado gritava com ela: - Quem dá o pão, dá o ensino.

Regra nº 3 – Minha mãe saiu para trabalhar como lavadeira em casa de família, afinal teria que ajudar no sustento dos filhos.

Regra nº 4 – Meu irmão mais velho também teve que ir trabalhar num supermercado.

           Sentia muita pena de minha mãe, pois o trabalho era muito duro para uma mulher tão frágil como ela, mas ela suportava tudo calada pois precisava de moradia para seus filhos.

            É triste dizer isso, mas só víamos um pouco de humanidade em nossa irmã nos natais. Nos natais tudo ficava diferente, ela comprava presentes para nós e os escondia. Na véspera de natal, ela colocava nossos sapatinhos na janela e no dia seguinte, quando acordámos lá estavam nossos sapatinhos cheios de presente. Minha irmã dizia na véspera do natal: - Vamos dormir cedo para que Papai Noel possa entrar pelo buraco da fechadura, se vocês estiverem acordados, ele vai embora e não deixa os presentes. Nós éramos tão inocentes que acreditávamos piamente no que minha irmã dizia. (Até hoje vejo o natal como uma data mágica, isto por quê na minha infância só conhecia a alegria do natal).

             Cada dia que passava, mais e mais minha irmã se revolta contra nós, e para nossa tristeza, minha mãe passava todo dia fora de casa, ficávamos, literalmente, nas mãos dela e ela era pessoa mais dura e cruel, que até então havia conhecido. Chegávamos sempre a uma conclusão óbvia: Com a nossa fuga para Araruama trocamos apenas de ditador; na roça era nosso pai; em Araruama era nossa irmã, a nossa ditadora.

           Todos nós tínhamos tarefas diárias a executar e minha irmã exigia perfeição absoluta. Ela, nossa irmã controlava o tempo para sairmos de casa para a escola (cinco minutos) o que não era suficiente, pois a escola focava distante. Assim, o jeito era correr como loucos para chegar à escola antes da batida do sinal. Chegávamos suados, exaustos e esbaforidos. Nossa vida não era, propriamente, uma vida alegre de criança. Vivíamos acuados pelo medo, sobressaltados, pois tudo era motivo para surras e castigo. O passatempo preferido de minha irmã era nos deixar sem comer. Pelo motivo mais banal, ela dizia simplesmente: - Hoje você não vai comer...

            E aquele que fosse escolhido do dia passava o dia todo sem comer, e ainda sentindo o cheirinho bom que vinha das panelas. O que suavizava a nossa fome eram os biscoitos velhos que a minha mãe ganhava das patroas. Tarde da noite nossa mãe nos oferecia os biscoitos e tínhamos que come-los , debaixo das cobertas, em silencio. Abençoados eram aqueles biscoitos velhos que abrandavam a nossa fome e nos ajudava a adormecer.

           Com o passar do tempo minha irmã se tornava cada vez mais desumana e perversa. Um dia jamais esquecerei: Minha irmã mandou fazer um banquinho, a fim de que eu alcançasse a pia para lavar as louças. Depois que às lavei, peguei o pano de prato e, inocentemente joguei o pano de prato no ombro. Para meu azar, minha irmã me observava naquele exato momento. Ela não perdeu a oportunidade para me aplicar uma lição que eu jamais esqueceria. Primeiro ela ordenou que eu tirasse toda a minha roupa, inclusive a calcinha. Quando eu, desesperada pelo medo, perguntei o por que. Ela disse com ar de satisfação: Quero você sem roupa para doer bastante. Fiquei totalmente nua no meio da cozinha. Só pensava: Cadê minha mãe...

              Minha irmã parecia fria e muito calma. Pegou o pano de prato, molhou embaixo da torneira, em seguida, o torceu bastante, até formar um rolo comprido. Então, começou a me torturar. Ela urrava: - Sua porca, agora você vai aprender a não fazer mais isso. Dito isso começou a m surrar com o pano de prato molhado e torcido. Batia no meu rosto, em minhas costas, pernas, braços. Enfim, onde o pano pegava. Ela só parou o terrível flagelo quando eu desfaleci no meio da cozinha. Sentia uma tontura e um gosto de sangue me veio à boca. Lembro-me vagamente dela me arrastando para o quarto e me cobrindo com um lençol. Adormeci, pensando em minha mãezinha, ansiava pelo colo dela... Naquele momento necessitava tanto da minha mãe como do ar para respirar...

              Acordei à tardinha com o corpo estranho, dormente e doía muito. Passei a mão na testa e estava queimando em febre. Dei graças a Deus, quando ouvi os passos de minha mãe chegando do trabalho. Ouvi quando perguntou para minha irmã: - Onde está a minha filha? Ao que ela prontamente respondeu: - Está no quarto. Minha mãe pressentiu algo e correu para o quarto, onde eu queimava de febre com ferimentos por todo o corpo. Minha mãe retirou o lençol que cobria o meu corpinho e deu um grito apavorante: - Você ainda vai matar um filho meu um dia você vai pagar por tanta maldade!

            Depois do desabafo, minha mãe olhou longamente para mim. Seu rosto era de total desamparo. Em seguida, ela se recompôs, encheu uma bacia com água morna e sal grosso, ali mesmo, no meio do quarto e começou a me banhar suavemente. Nunca esqueci: As lágrimas de minha mãe caiam dentro da bacia.

             Na minha inocência de criança eu não conseguia compreender por quê a minha irmã me odiava tanto, a mim e a meus irmãos e esse ódio perdura até hoje, e meu coração doí muito por isso. Minha irmã me amaldiçoava todo o tempo, me chamava de porca, dizia que eu nunca iria me casar por que eu era uma porca (e eu era apenas uma criança).

           Um dia eu perguntei à minha mãe: - Mãe é verdade que eu não vou casar por que eu sou porca? Minha mãe me respondeu com a voz firme: - Filha, maldição sem causa, não procede, tire isso da cabeça, você não é porca e você vai se casar com um homem maravilhoso, terá filhos e netos, será uma pessoa próspera e na autoridade do Espirito Santo, o tempo vai passar e um dia sua irmã terá uma “porca” dentro da casa dela e essa “porca” lhe trará muita vergonha.

           Uma coisa que nos assustava era o fato da minha irmã ter uma espécie de satisfação para fazer o que era mal. Bem, tinha o que chamávamos de Robi Maquiavélico. Durante as madrugadas, como tínhamos hábitos de fazer xixi na cama, ela não dormia, passava toda a noite nos apalpando para ver quem estava mixado. E quando finalmente ela conseguia encontrar um de nós mixado, aí ela exultava de satisfação! Era hora de punir o mijão da forma mais cruel possível. Então, ainda dormindo, erámos arrancados de nossas camas, aos gritos e pontapés. Ela nos arrastava até o tanque, esfregava os panos mixados em nossa cara e, com gritos e palavrões nos obrigava a lavá-los. Ainda sonolentos, com o frio cortante da madrugada, nus, desorientados as lágrimas escorriam pelas nossas faces e a humilhação nos esmagava até a alma. E o pior era a dor de não compreender o motivo de tamanho ódio. Naqueles momentos terríveis nós ouvíamos o choro de nossa mãe. O sentimento era de total desamparo e se a morte viesse, seria um grande alívio para nós.

          Queridos internautas, agora daremos um pulo no tempo. Entrei na fase adolescente, felizmente já não morávamos mais com nossa irmã, éramos livres, finalmente livres. (Nessa época, perdi um irmão dois anos mais velhos que eu, 6 anos era a sua idade, até hoje não sabemos, ao certo, a causa do seu falecimento).

         E, depois de tantos anos de dor, aos dezenove anos, feliz e apaixonada, me casei com um homem maravilhoso. Tivemos três filhos lindos e perfeitos e, ao longo dos anos, à custa de muito trabalho e muita decência nós começamos a prosperar. Eu nunca trabalhei fora, mas ajudava o meu marido sendo econômica, não fazendo exigências de coisas que ele não tinha condições de comprar, estimulando-o a voltar a estudar (ele hoje é um advogado bem conceituado e bem sucedido financeiramente). Eu sempre fui uma mulher inteligente, cheia de talentos para as artes (escrevo e pinto). Sempre andei na minha integridade, nos princípios morais que a minha mãe me ensinou...

             Bem, o tempo passou e quando minha sobrinha (filha da minha irmã que me odeia) tinha mais ou menos vinte anos ela me procurou, foi até a minha casa pedindo que a ajudasse, pois estava doente e não tinha condições de se tratar sozinha. Eu, prontamente, a aceitei em minha casa.

           Cuidei dela com carinho e dei a ela o tratamento médico de que precisava. Afinal, ela era minha sobrinha e eu a amava muito, não consigo precisar o tempo que essa moça ficou hospedada em minha casa, mas creio que foi por três meses mais ou menos,

             Bem, continuando a história, essa moça tinha um noivo que ia visitá-la em minha casa e quando ela foi embora, a mesma estava grávida, e por isso se casou logo em seguida à sua saída de minha casa. Essa hospedagem da minha sobrinha foi mais ou menos no ano de 1988. (Detalhe: minha sobrinha não me convidou para o casamento).

             Passaram-se os anos e em 1999 (não sei se é realmente este ano, pois ainda existe muita coisa a ser desvendada nesta história) minha sobrinha procurou meu marido (advogado) para que ele fizesse a sua separação, meu marido aceitou ajudá-la e foi assim, que juntos tramaram a terrível traição contra mim. Diz o meu marido que ele não queria mas ela o perseguia, usava de todos os meios para seduzi-lo, até que se tornaram amantes. Ainda, segundo o meu marido, isso aconteceu há 15 anos. Fica a duvida e a pergunta que não quer calar. A traição dupla começou a 15 anos? Ou a traição dupla começou em 1988, quando a hospedei em minha casa?

            É tão deprimente para mim concluir que existia no mundo pessoas tão más, que se valem da inocência das pessoas para tentar destruí-las. Hoje concluo que tanto meu marido quanto minha sobrinha são tão pobres e tão podres que chego a sentir pena e nojo deles.

           Caros leitores, vocês se lembram da profecia da minha mãe, com relação da minha irmã sempre me chamar de porca? A primeira intenção da minha sobrinha quando tramou roubar meu marido foi ter um idiota para sustentá-la, isto por quê ela nunca trabalhou, nunca fez nada na vida, sempre foi uma pessoa inútil, porca (sua casa é um lixo), preguiçosa, sem habilidades ou talentos para coisa alguma e, pior que tudo isso, uma tremenda mal caráter. Enfim, este traste não possui competência moral, tampouco espiritual para procurar um homem descompromissado com outra pessoa e se unir a esse homem de modo honrado e decente.

           Caros leitores, meu marido foi embora, mas não foi morar com essa porca, ele alugou um apartamento onde mora sozinho. Sabem por que ele agiu assim? Porque ele morava numa casa limpa, linda e acolhedora. Ele comia muito bem, e suas roupas eram muito bem lavadas e bem passadas. E querem saber mais sobre este arremedo de mulher, ela é feiticeira e todo o tempo agiu com a ajuda do diabo (seu amigo de todas as horas). Não há nessa mulher nenhum temor de Deus, ela não sabe que o diabo só age na vida de uma pessoa com a permissão de Deus. E Deus só dá essa permissão por que a pessoa é escolhida dele e ele quer prová-la, quer ver um crescimento espiritual nessa pessoa. Por tudo isso sou muito agradecida a Deus pela dor que tenho sentido, pela rejeição imposta a mim de modo tão cruel, pela decepção, por ter sido enganada por tantos anos pela pessoa que mais amei e a quem dediquei toda a minha vida.

          Um recado a minha irmã e minha sobrinha:

      Sinto-me vitoriosa, escolhida de Deus, sinto-me em Paz. À noite, durmo o sono dos anjos por que minha consciência está em paz. E vocês, conseguem dormir à noite?

 
          Obrigada Senhor Deus, por ter me mostrado a verdade e que a tua justiça seja feita. Eu te entrego esta causa, sejas tu meu juiz. Obrigada pela dor. Ela me ensinou a ser uma pessoa melhor.


OBS: minha irmã é “evangélica” há mais de 30 anos.

Com grande pesar

Eu, Luiza.






terça-feira, 2 de abril de 2013

MUDANÇA E ATROPELAMENTO

             Gostaria de saber as datas exatas de cada episódio traumático em minha vida, mas não sei precisar com tanta certeza. Tudo o que eu sei é que a separação relâmpago aconteceu às 10h da noite do dia 04/02/13. Desse momento em diante começou todo o meu inferno existencial. Num dia estava casada e noutro dia estava completamente abandonada e sem rumo. Me sentia profundamente ferida e uma dor imensa se apoderava de mim. Com quem chorar? Pra onde ir? Com quem contar?
             Na noite da separação eu me sentia num estado de anestesiamento total. Foi tudo muito cruel e rápido. Não preparação prévia, não houve uma conversa. Nada. Nada. Nunca havia sofrido uma perda tão traumática e tão rápida.
              O homem que eu amara durante mais de 40 anos se revelara para mim como um carrasco, sem emoção, frio e disposto a jogar-me pra fora da vida dele como um monte de lixo que se coloca à beira da calçada para o lixeiro levar no dia seguinte. Aquele homem que eu desconhecia, até então, havia esperado aquele momento durante mais de 40 anos e eu nem sequer desconfiava de nada. É certo que ele já não me beijava mais, não conversava mais comigo. Sua postura era sempre fria e distante mas daí a imaginar que existia uma traição de mais de 15 anos? E com a minha sobrinha?
             Quando eu reclamava de seu comportamento comigo ele dizia que era o stress do dia a dia. Eu sofria muito e me sentia cada dia mais sozinha e infeliz. O meu grande consolo eram os meus netos, as minhas pinturas, etc..
             O meu casamento era a coisa que me trazia mais orgulho ao meu coração. Eu falava dele com admiração e acreditava no amor do meu marido por mim. Amava cuidar da minha casa, das minhas plantas, da decoração, etc. E, de repente, nada mais existia. O porquê das coisas havia se perdido. A melhor pessoa que eu conhecera um dia se tornara a pessoa mais cruel, mais fria e mais covarde que eu tive o desprazer de conhecer um dia. Era um sentimento devastador!
             Quase que imediatamente após a separação eu decidi vir morar em Araruama. Eu necessitava fugir das lembranças que aquela casa suscitava em mim.
            A mudança transcorreu sem incidentes. O meu marido alugou uma casa para guardar o lixo e me deu um carro (acredito que como uma forma de amenizar o remorso ou o desconforto que sentia). Será que sentia remorso ou desconforto?
            Hoje, revendo todos os meus anos de casada, chego a uma triste conclusão: o meu marido sempre foi um homem promíscuo, um homem sujo e depravado, e isso me faz refletir e mudar toda a minha atitude em relação a esse homem que emporcalhou toda a minha vida. Um homem como esse não merecia fazer parte da humanidade.
            Os meus valores foram remexidos. a minha crença no ser humano deixou de ser uma certeza.
Jamais serei o mesmo ser humano que era. Jamais. A traição articulada e premeditada durante tantos anos me levou a uma posição de grande desconforto com relação ao mundo e às outras pessoas.
            Após dois dias da minha mudança, para piorar toda a minha situação, eu e uma amiga fomos atropeladas no centro da cidade de Araruama. Ambas estamos com fissuras na bacia, além de eu ter contatado fratura no cox e na quinta vértebra. Tenho sofrido de fortes dores, não consigo andar  sozinha, a recuperação é lenta e o meu estado emocional tem atrapalhado muito na recuperação do estado físico.
           Tenho duas enfermeiras para cuidar de mim, uma durante o dia e outra à noite. Eu continuo morando em Araruama, meu marido trabalha e mora em Niterói. Ele paga uma das enfermeiras. quanto ao mais continua frio e sem nenhum interesse.
           Eu, por outro lado, tenho agido com ele de maneira carinhosa. Outro dia ele me perguntou:- Você me aceitaria de volta? Eu ainda fiquei cheia de esperança. Então perguntei a ele:- Você terminou com aquela vadia? Ele respondeu: - Não quero conversar sobre este assunto! Na mesma hora fiquei muito irritada, meu filho dizia pra mim que eu não devia me humilhar mais..Eu agora estou refletindo e chegando à conclusão de que não vale a pena. Ele não vai mudar..Preciso assumir uma outra postura e ir em frente.
          Preciso entender que somos bem diferentes em nossos valores: Eu amo a verdade; Ele se compraz com a mentira. Eu amo integridade; Ele usa a falsa integridade como uma capa.
          Preciso acreditar que posso vencer sem ele e vou vencer sem ele.
          Deus me tirou da lama da enganação e da mentira na qual vivi por tantos anos.
          Amei uma pessoa que tripudiava dos meus sentimentos, que desrespeitava o lar que construímos juntos. Eu não vou odiá-lo mas vou devolver a ele a mesma indiferença com que me tratou todos esses anos.

                                                                                                Luiza Fonseca