quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

QUARENTA ANOS DE CONSTRUÇÃO



A PESSOA QUE MAIS AMO
CAVOU UM BURACO BEM FUNDO
E ME JOGOU LÁ DENTRO
ESTOU ME ESFORÇANDO BASTANTE PARA SAIR DESTE ABISMO
EU GRITO, CHORO, MAS É IMPOSSÍVEL
ASSIM, DESISTO, FICO QUIETINHA
E ESPERO QUE A MINHA ALMA VOE PARA LONGE
E ALCANCE A LIBERDADE;
LIBERDADE DOS QUE, COMO EU,
NUNCA ARQUITETARAM O MAL PARA NINGUÉM

Luiza Fonseca

A dor de uma confissão inesperada revelou em mim abismos de desamparos, vales solitários e tenebrosos.  Estou de alma machucada! Como passar por um momento tão crucial?

Essa dor que rasga toda a intimidade da minha alma faz-me descrê no ser humano, no quanto ele é perverso e ardiloso, no quanto ele pode ser cruel e dissimulador.

Essa dor que transpassa minh´alma esmaga-me. E ela diz pra mim: “_ Tá vendo como você é ínfima, pequena, diminuta? Foi tão fácil enganar você...”

Ah, Deus, eu preciso de todos os abraços do mundo!

A rejeição imposta a mim tão covardemente feriu-me de morte no início da minha velhice, num momento em que todos – ou quase todos – tornam-se mais suaves e introspectivos, buscando um contato maior com Deus, já que a hora final avizinha-se de nós.

Agora seria a hora sem hora. Brincar com meus netos, rir com eles, caminhar de mãos dadas, a família unida, todos juntos...

Dormi e acordei tantos, tantos dias tendo como companheiro o próprio Judas. Uma multidão de pecados dormia comigo todas as noites. Morro um pouco a cada dia quando caio na real. Saber que todo o trabalho, todo o esforço de nada valeu. Minha vida de casada foi uma farsa, uma mentira, um engano, um embuste, um dolo...

E agora, como catar os cacos? Como recomeçar, meu Deus?! De onde?

É, meu marido, parabéns! Você sabe fingir muito bem. Nossa, estou impressionada! Você é um grande ator!

Imagina, você viveu 14 anos de sua vida interpretando uma pessoa que não era real, ou seja, vivendo um personagem,. E para que tanto sacrifício? Podia ter sido honesto e me contado tudo. Pra que preferir a enganação?

Durante 14 anos (ou teria sido mais?) você se relacionou comigo contra a sua vontade. Desejava estar com outra quando estava comigo. Quantas vezes você deve ter vomitado às escondidas...

Você talvez não entenda, afinal, nunca foi traído. Não sabe o que é ser traído, a dor que a gente sente.
Me sinto envergonhada, suja, um farrapo de gente, perdida, sem sonhos, morta, culpada.

Não sei como recomeçar.

Não sei que rumo tomar.

Cadê minha auto-estima, meu domínio próprio? Cadê o amor que sinto por mim mesma?

Qual é a saída para mim?

Quanto sacrifício você fazia para dormir todas as noites com uma merda de mulher como eu?

Ah, eu preferia mil vezes que você tivesse me matado. Seria rápido e não doeria tanto.

Mas a vida é assim. Às vezes cometemos erros.

Você me destruiu mas com o tempo vou superar.

Espero que valha a pena ficar com ela, afinal para tê-la você despedaçou muitas almas e corações inocentes. Conseguiria um casal ser feliz com a dor de toda uma família?

Quarenta anos de construção é muita área construída!

Luiza

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Sou uma mulher de 59 anos, casada há 40, mãe de 3 filhos e avó de 6 netos. Nasci em Araruama e morei em Niterói durante a maior parte da minha vida de casada. Decidi fazer este diário virtual como forma de aliviar o meu coração tão ferido e também como um conforto para outros corações despedaçados por histórias parecidas com a minha.

Na noite do dia 04 de fevereiro de 2013 meu marido me chamou para uma conversa. Nos sentamos no sofá da sala e fui surpreendida com uma revelação bombástica! Ele disse: “_ Luiza, aluguei um apartamento e estou saindo de casa”. Na hora eu fiquei perplexa, precisei de um tempo para tomar fôlego e logo a seguir a pergunta que não queria calar: “_ Você tem outra pessoa?” Ao que ele balançou a cabeça afirmativamente. O desespero então começava a tomar conta de mim. E eis que ouço a resposta entrando em minha mente já tão confusa: “_ Tem, mas não vou dizer quem é”.

Naquele momento minha filha mais velha deu a volta por trás de mim, foi para o quarto e fechou a porta com chave. Eu corri atrás dela desesperada e me posicionei atrás da porta. Minha garganta estava seca, meu coração batia freneticamente. Foi nesse instante que eu ouvi a voz de minha filha conversando ao telefone com a irmã. A frase que ouvi jamais vou esquecer: “_ Jack, não diga pra minha mãe quem é a amante do meu pai porque ela não vai aguentar, ela vai morrer!”

Ele não teve coragem de me dizer quem era a amante. Foi um covarde. Mas eu sou muito amada. E meus três filhos, juntos, me contaram. Ah, Maysa, meu mundo também caiu. Meu marido estava se relacionando há mais de 10 anos com a minha sobrinha.

Preciso então contar a vocês a minha relação com esta moça ao longo dos anos.

Quando eu tinha 11 anos minha irmã – que também é minha madrinha – deu à luz a uma menina.

Acompanhei bem de perto os primeiros anos de vida da minha sobrinha. Ali, naquele tempo, nutri um amor por ela cheio de cuidados. Ajudava minha irmã a dar banho, cuidava dela, protegia, alimentava, etc...

Os anos se passaram, me tornei adolescente e conheci o grande amor da minha vida. Eu com 15, ele com 19. Vivemos um amor intenso. Me casei no Dia de Reis, um dia após completar 19 anos.

E a minha sobrinha, em questão, está presente nas fotos do meu álbum de casamento: uma criança.

Veio a minha primeira filha, a segunda e o terceiro.

Vivíamos com dificuldades financeiras, lutando por um futuro melhor, mas felizes. Havia amor.

Quando a minha sobrinha tinha 20 anos ela me pediu uma hospedagem em minha casa, alegando estar doente, precisando de minha ajuda. Jamais negaria tal pedido, sobretudo à filha de uma irmã.

Fato é, que ela chegou em minha casa debilitada, precisando de cuidados e foi acolhida por mim, sua tia, e por todos da minha família com muito carinho, atenção e respeito.
Comecei a notar que ela tinha um carinho exagerado pelo meu marido. Mas a minha inocência não permitia que eu visse algo além.

Por cerca de 3 meses eu a hospedei em minha casa. Depois de um tempo ela casou grávida e qual não foi minha surpresa quando não recebi o convite de casamento!

Soube que seu casamento estava marcado e que casaria discretamente, com poucos convidados, devido à gravidez. Tinha por certo ser convidada uma vez que ela havia sido hospedada em minha casa e na minha inocência julgava que os laços haviam sido estreitados. Ledo engano: eu e meu marido não fomos convidados.

Anos se passaram e nenhum contato mais houve entre mim e ela.

Uma observação curiosa: alguns anos depois ela procurou o meu marido, que é advogado, para fazer a separação dela. Fiquei encucada e até mesmo chateada com ele por ter aceitado, afinal ela não teve nenhuma consideração em nos convidar para o casamento dela. Segundo ele, foi aí que ela começou a persegui-lo. Mas hoje, no meio de todo esse turbilhão, já não sei mais em quem acreditar – exceto nos meus filhos e no meu Deus.

Hoje ele está vivendo com ela e eu estou tentando superar tudo isso. Uma sensação estranha, como se eu tivesse me perdido de mim mesma. Pode parecer incompreensível alguém perder-se de si mesmo. Num momento estava bem, noutro desfaleci de mim.

Houve uma morte. Não uma morte como as outras, real e definitiva, mas a morte de minhas partes estruturais. Não sei explicar.

Eu era inteira, completa, feliz... Talvez algo tão necessário na minha alma tenha se partido ou se perdido. Assim, fiquei pela metade. Nunca fui dada a conhecer a podridão do mundo. Preferia pintar o mundo de várias cores, preferia acreditar que o belo, o suave, o frescor era o que de fato valia a pena. Eu amo acreditar nas pessoas, eu amo cultivar jardins para elas, eu amo sorrir, brincar, amar. Não aprisionaria um pássaro porque se assim o fizesse macularia ele.

Acho que todo esse tempo vivi num mundo de fantasia, de mentira. E agora? Como viver no mundo de verdade? No mundo real.

Bom, esta é apenas a primeira página do diário virtual que começo hoje. Um desabafo de uma pessoa cheia de dor. Mas tem muita cor aqui também.

Quero que saibam que não há em mim nenhuma intenção de julgamento, de ódio ou quaisquer forma de vingança ou revanchismo.

Todas as palavras e sentimentos aqui contidos são uma forma de desabafo, de desafogar meu coração e minh´alma.

Amo meu marido e o perdoo. E ele sabe disso. Mas preciso fazer algo por mim.

Amanhã eu volto.

Um beijo.

Luiza